NA PANDEMIA…
Hoje quero falar um pouco sobre o que o confinamento tem causado nas pessoas, a partir das minhas experiências de atendimentos clínicos.
No início da pandemia, o que pude observar foi uma grande preocupação com a saúde mental das pessoas, o que fazer para não enlouquecer, e como nós psicanalistas podíamos contribuir para minimizar esse adoecimento. No início tive que entender como eu faria para me manter sã, já que sou uma pessoa que lutei muito pela minha liberdade, como poderia viver presa? Essa foi uma grande questão para mim. Nunca tive tempo livre, 2 trabalhos, 2 filhas, marido, casa, etc, e de repente me vejo presa dentro da minha casa e com tempo livre.
Fiquei realmente angustiada e paralisada diante dessa sobra de tempo! Demorei uma semana para retomar meus atendimentos, inicialmente estávamos todos resistentes aos atendimentos online, eu e meus pacientes. Mas quando vimos que essa quarentena iria demorar bem mais do que 15 dias decidimos fazer online.
Eu estava aflita, com medo do que chegaria nesses atendimentos, medo de ouvir essa grande angustia de qual toda a mídia vinha falando, dessa grande depressão que o confinamento estava causando nas pessoas.
Com a retomada dos atendimentos veio a grande surpresa, o confinamento está sendo ótimo, me disse um paciente. Fiquei chocada, como assim? ótimo. E a medida que os atendimentos aconteciam eu ia percebendo o quanto a vida “lá fora” pode ser angustiante para algumas pessoas. Um outro paciente ciumento me disse que não sofria mais de ciúmes já que agora não tinha mais com que se preocupar.
PRAZER OU AMEAÇA?
A partir disso comecei a pensar naquilo que nos faz sofrer e no que nos faz feliz, e o que é sofrimento e o que é felicidade.
Desde nossa infância fomos ensinados que temos que estudar para ter uma profissão, sermos excelentes profissionais e com isso ganharmos muito dinheiro para sermos felizes.
Hoje em dia felicidade é consumir, comprar, ter dinheiro e fama. Nos anos 50 o sujeito roubava para comer, hoje se rouba para ter um Iphone 12. Muitas pessoas se submetem a destruir toda sua dignidade para ganhar dinheiro e fama (veja aí os programas BBB e a fazenda) para se parecerem pessoas melhores aos olhos dos outros.
O SUCESSO!
A resposta para essa pergunta varia de tempos em tempos, mas o que de fato temos que levar em consideração é que nós temos que aprender a olhar para nossa própria vida e nos perguntar, eu tenho uma vida bem sucedida? Sou feliz? O que é ser feliz para mim?
Precisamos nos libertar do julgamento do outro, temos que ser felizes para nós mesmos. Não é fácil nos afastarmos dessa demanda do outro. Mas esse é um grande beneficio que vejo no confinamento, podemos refletir e pensar naquilo que nos tem feito feliz independente do olhar do outro, porque há quase 1 ano não temos nada para mostrar para o outro, não saímos de casa, não precisamos colocar nossa melhor roupa para ir trabalhar, não precisamos sair com nosso carro zero (financiado em 48 vezes) para chegar numa balada ou na casa de alguém para impressionar. Não nos restou nada para postar nas redes sociais!
Podemos agora nos perguntar, quais são nossos limites, quais são nossos desejos? Nós somos o roteirista do nosso filme, tudo o que acontece com a gente é baseado naquilo que a gente quer. De alguma forma fizemos com que aquilo acontecesse, mesmo que inconscientemente, seja bom ou ruim. Nós escrevemos nossa própria história.
Nossas idealizações ou o que pensávamos que eram nossas idealizações, foram aniquiladas por um vírus, mas agora é possível parar para pensar se essas idealizações de felicidade, amor perfeito, etc, eram realmente nossas ou se era algo que esperavam de nós.
Tendo dito tudo isso, retomo a pergunta e convido todos a refletirem! O que realmente importa ?
Elaine Tasso Psicanalista, pós graduada em Neuro-psicopedagogia. Com especialização no Núcleo de Psicoses e no Núcleo de Crianças e Adolescentes pelo Centro de Estudos Psicanalíticos.